domingo, 27 de julho de 2008

'A pêga' - Claude Monet, 1872

Reprodução de tela do meu impressionista favorito, o grande, o inimitável, o mágico: Monet (1840-1926).
Descobri, durante o processo, que o mestre concluíu este quadro precisamente cem anos antes do meu nascimento...
Na descrição técnica desta tela, inscrita na obra 'Monet' (A Era dos Impressionistas, 1995) da editora 'Globus', pode ler-se: 'As paisagens nevadas são um suporte perfeito para as ideias dos impressionistas, posto que as sombras e os matizes da luz convertem o manto branco numa subtil sinfonia de matizes. Aqui vão desde os leves toques amarelos da zona iluminada no primeiro plano até aos azuis e violáceos das sombras.' O que não é dito é que estes efeitos matizados são extremamente difíceis de conseguir! Desisti umas trezentas vezes, e este pequeno quadro, de 25x20, levou mais de seis meses a ser concluído.
Está longe de estar perfeito. Está parecido. Ao longe. Assim que aproximamos a foto original do meu resultado saltam à vista mais mil e um detalhes que não consegui captar, ou que captei mal. Ainda assim, gosto do meu quadro de sacrifício. Precisamente porque sei a que ponto esteve perto de ser mandado para o lixo. A sua conclusão é uma vitória da persistência e devoção ao Mestre.
Atrevo-me a dizer que só mesmo um extraordinário copista conseguiria reproduzir na perfeição as pinceladas de Monet...
Diz Cristoph Heinrich, na sua obra 'Monet' publicado pela editora Taschen, que 'Claude Monet é o pintor da luz do dia, do ceú, da neve, das nuvens a reflectirem-se na água e o primeiro a pintar quadros quase completamente brancos. Ao longo da sua vida, mesmo nas suas últimas telas - os nenúfares -, ele acrescentou o branco às suas cores, retirando da sua pintura as tonalidades desvanecidas que, nesta natureza-morta, ainda dominam. Monet é o pintor da luz.'
Com tão poderoso comentário, que resta para dizer?
Mas voltarei a Monet, pois ele é inesgotável. E voltarei com fotos da sua casa de Giverny, onde tive o verdadeiro privilégio de visitar os maravilhosos jardins, com o lago dos nenúfares, pisar a famosa ponte japonesa, e entrar na sala estúdio de Monet. Uma experiência ímpar...

domingo, 20 de julho de 2008

Natureza morta com cesta de fruta ('A mesa de cozinha', 1888-1890)

Uma reprodução de um clássico de Paul Cézanne (1839-1906), mestre impressionista contemporâneo de Monet, Renoir, Van Gogh, Sisley e Pissaro. Curiosamente, este tempestivo artista, de reputado mau feitio, foi reprovado na Escola de Belas Artes e recusado em sucessivos salões de exposição, antes de ser reconhecido como mestre. As suas obras chegaram depois a vender-se por mais do dobro que as de Monet (o que eu, pessoalmente, não entendo, mas gostos são gostos. Gosto de Cézanne mas venero Monet).
Podem conferir o original da tela aqui.
Este quadro tem uma história curiosa, pois a base não é mais do que uma daquelas telas pré-impressas, cheias de números que correspondem a cores, e que comprei no Lidl por uma ridicularia. Sou, por norma, favorável a tudo o que leve as pessoas a criarem. E, se for preciso pintar por números, não tenho absolutamente nada contra. Mas, esta técnica tem as suas limitações. Primeiro, o material fornecido nunca é de boa qualidade. Já não falo em qualidade de primeira, que aí também eu não posso chegar, mas não é possível fazer ovos sem omeletes. O material destes kits é francamente primário. Depois, ao pintar áreas geometricamente delimitadas, perde-se o envolvimento global da tela que se está a tentar reproduzir. Quando a tela é originalmente geométrica, por exemplo um cubista, o problema é menor, ainda que persista. Mas, num quadro impressionista, que vive da pincelada, do matizar das cores e da noção de movimento, até podia vir Cézanne em pessoa que isto ficaria horrível se ele se limitasse a pintalgar as cores indicadas nas zonas, seguindo as instruções. É que os kits falham numa coisa essencial: não ensinam a dar volume nem movimento. Nem a misturar as cores de forma correcta. São uma boa base, mas aconselho toda a gente a pegar no resultado final e não ter medo de dar uns retoques pessoais.
Foi o que eu fiz. Quando acabei o 'by the book', olhei para aquilo e....blarghhhh! Ca nojo! Não havia nada que me parecesse bem, apesar de ter executado com precisão as instruções do kit. Frustradíssima pelo tempo perdido, mas teimosa o suficiente para tentar salvar o que pudesse ser salvo, fui buscar os meus óleos e voltei a fazer tudo, trabalhando sobre o primeiro resultado final como se de uma base se tratasse. Novas misturas de cores, o franco arredondar das formas, o matizar da cor nos fundos, o trabalhar das sombras (o preto, esse tão pouco conhecido aliado...é ele que dá toda a profundidade a um quadro, e tanta gente tem receio de o usar. Eu também, no início, mas agora, preto com ele!)... no final, nem eu o reconhecia. Deu-me um gozo brutal fazer esta tela, depois da frustração inicial, e gosto tanto dela que a tenho na sala.
Retenho a dificuldade em pintar a toalha, de modo a que parecesse dobrada, vincada, amassada, manuseada, como no original. Tudo isso é feito trabalhando tom sobre tom, e trabalhando sombras. É o chamado 'faz e desfaz', colocando a tinta, e depois esbatendo, decompondo a pincelada que acabámos de dar, e integrando-a no que já tínhamos feito. Muitas vezes, é um trabalho que só é possível em seco. Camada sobre camada. Por isso é que os óleos são mais morosos: há muito tempo morto entre secagens. Mas é tempo bem empregue. Remember: a pressa é inimiga da perfeição. O próprio Cézanne levou cerca de dois anos a concluir este quadro...
A foto, como sempre, está meio nojentinha, porque até ter uma ligação internet eficiente tenho de fotografar a menos de um mega pixel para conseguir fazer o upload. Vou ter de substituir isto tudo, mas por enquanto é o que há.

sábado, 12 de julho de 2008

Pastoral

Não sei absolutamente nada sobre o autor original desta tela. Só que vi uma aluna a fazê-lo em vitral e gostei das cores. É sempre assim, tem de ser 'amor à primeira vista' para eu me aplicar a 100%. Não me peçam para fazer uma tela que não me diga nada, que sai asneira na certa...
Está pendurado no meu quarto, mesmo na parede em frente da cama, e foi para ali para por um pouco de cor no branco sobre branco. Detesto paredes brancas. Limitam-me o espírito. É o vazio...o nada...o mais puro éter, imaterial e deslambido. Odeio paredes brancas.
Com esta tela - que por ser absolutamente masoquista fiz a óleos e que me levou quase seis meses a acabar (pois parece básico mas não é. As nuances de cor e transparências iam levando aqui a jovem à loucura) - perco-me em reflexões de azul e rosa noite fora, ou quando acordo de manhã. São 60cm por 80cm de cambiantes de cor, e é um dos meus quadros preferidos. Gosto da suavidade do tema pastoral, aliado à intensidade dos turquesas e violetas. Gosto do bucolismo rasgado pela dominante geométrica. Gosto do pormenor das sombras nas ovelhas, gosto do pormenor de haver ali uma ovelha preta (será da sombra, ou é do mau feitio mesmo?). Achei curioso o pormenor que talvez não dê para ver na foto, das unhas dos dedinhos dos pés pintadas...uma pastora, mas uma pastora bem posta!
Hesitei na hora de escolher a moldura, pois nunca fui muito fã de dourados. Mas aconselharam-me a dar-lhe uma moldura nobre e fiquei-me pelo compromisso: dourado, sim, mas com laivos de verde a chamar os fundos da tela. É uma canseira pensar em todos estes pormenores. O Emanuel (o meu emoldurador oficial) já se ri quando me vê entrar. É que eu chego lá e digo sempre o mesmo, com um ar de desespero extremo: o que é que eu ponho nisto? E passamos largos minutos a experimentar combinações. Felizmente que ele é um querido, porque eu sou uma melga de indecisão nestas coisas...
A foto está um pouco miserável porque tive de a reduzir para conseguir que o estupido PC se dignasse fazer o upload da foto. Nunca mais tenho uma ligação de jeito, bolas!