segunda-feira, 24 de março de 2008

At Sunset...

Este é uma daquelas telas com uma história por trás...
Foi a minha segunda reprodução do Jim Warren, de que já falei num post anterior, e tal como a outra tela, também me chamou a atenção pelas cores. Mas, mais do que isso, - e aqui começa a história-, chamou-me a atenção pelo simbolismo que lhe atribuí.
A foto não é das melhores, e vou substitui-la assim que puder, mas hoje apetece-me falar sobre este quadro, que está no meu quartinho, e que amo de paixão, apesar de ter passado por momento menos bons, à volta dele.
Cette toile a été ma deuxième reproduction du peintre Jim Warren, de qui j'ai parlé en presentant une autre toile. Tout comme la première, ce furent les couleurs à d'abord capturer mon regard, mais aussi et surtout, le simbolysme que j'y ai vu...La photo n'est pas géniale mais j'avais envie de parler de cette toile aujourd'hui
Esta tela nasceu para ser oferecida a alguém que já não faz parte da minha vida. Seria indelicado dizer 'felizmente', mas, como o blog é meu, e eu digo o que me apetece, Felizmente mesmo! Seja como for, na altura namorava com um rapaz e entendi, porque sou emocionalmente atrasada mental, que ele merecia uma prenda de Natal especial e decidi fazer-lhe este quadro. Porquê este? Porque, ao olhar para ele, o que vemos? (melhor dizendo, o que vi eu) Vemos a espuma do mar transformar-se em mulher e o rochedo em homem. Com o pôr do sol, que dá título à tela, começa para estes amantes a altura em que podem estar juntos. Eu interpreto esta tela como um conto, ou uma lenda. A princesa Espuma que vem ter com o seu Príncipe Rochedo, para viver efémeras horas de felicidade antes de voltar a desfazer-se em espuma, refugiando-se no seu porto seguro por algumas horas . (É maricas, pois decerto, mas eu nunca disse que não era lamechas, e neste cantinho restrito estou muito mais à vontade para dar largas ao meu inconformado romantismo). Anyway, agradava-me sobretudo a ideia do Homem rochedo, que estivesse ali, forte e firme, para a Princesa Espuma. Pois enganei-me redondamente ao acreditar que o destinatário da tela saberia honrar a árdua tarefa de estar à altura da lenda, ou o que seria ideal, de ir além da lenda. Pouco tempo depois levei uma tampa monumental, sem nunca chegar a saber muito bem porquê, mas isso agora também já não me interessa minimamente. E como me enganei, pensei, pensei, pensei, e contra todos os meus princípios, contactei a inominável criatura e pedi-lhe que me devolvesse o quadro. (Mais do que justo, pois eu devolvi-lhe o estúpido anel). Eu sei que isto não se faz, mas eu sou assim: dou tudo com extremo prazer, mas se mas fazem também as levam de volta. Eu simplesmente não podia deixar um pedaço de mim áquela pessoa, que não o merecia de todo e que não saberia como cuidar dele. Os quadros têm de ser mimados, a moldura acariciada, longamente contemplados... A criatura teve o bom senso de não me levantar problemas e colaborar, e por isso pedi a um amigo que o fosse buscar. Não vos sei descrever a alegria de o ter de volta. Só apaguei a dedicatória que tinha escrito por trás, e pendurei o meu bébé, só meu, e para sempre meu...Não me desfaço deste quadro nem que me matem. Não desisto de acreditar no seu simbolismo, como também não desisto de pensar que talvez um dia encontre um rochedo a sério.
Cette toile est née pour offrir à quelqu'un qui ne fait plus partie de ma vie. Courrant le risque d'être impolie, je me dis que 'tans mieux et bon débarras!'. Toujours est-il qu'à l'époque je sortais sérieusement avec un jeune garçon, et j'ai voulu lui offrir un cadeau spécial. Cette toile m'avait intéressé par le symbole que j'y voyais: la princesse écume se reunissant avec son prince rocher au coucher du soleil, pour quelques heures de bonheur avant de se retransformer en écume et rejoindre la mer. Un peu naive, très à l'eau de rose, bien sûr, mais dans ce petit coin je me sens plus à l'abri pour me montrer telle que je suis. Malheureusement, j'ai mal jugé le caractere du destinataire qui m'a quitté peu après. Après une profonde reflexion, et contre tous mes principes, j'ai recontacté la créature en question pour récuperer mon tableau. Je sais que ça ne se fait pas, mais je ne pouvais absolument pas laissé un morceau de moi à une personne qui ne le méritait pas le moindre du monde. Atravers un ami, qui a été le récuperer pour moi, j'ai récuperé mon bébé à moi, qui est aujourd'hui dans ma chambre, et qui sera toujours spécial pour moi. Je ne me séparerai jamais de cette toile, ni de son symbolisme, et je croirai toujours qu'il sera possible, un jour, de trouver un vrai rocher.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Homenagem ao grande Fernando Pessoa

Sempre gostei muito de Fernando Pessoa. E de alguns dos seus heterónimos, especialmente do Caeiro, mas menos. Acho que Pessoa, enquanto Fernando, expunha bem a sua sensibilidade e dor interna, e sempre foi isso que me atraiu nele. A faceta sofredora, pessimista e sombria, que ainda assim não conseguia abafar o seu génio criativo.
Passei por uma fase poética muito severa, durante a adolescência, e qual rato de biblioteca, li quase tudo o que havia disponível. Mais, enquanto os amiguinhos passavam o verão na praia, eu ia de autocarro até Sesimbra, buscar livros, e voltava para casa. Instalava-me na marquise soalheira, com uma enorme caneca de refresco de café, um caderno e uma caneta de tinta permanente. Tenho cerca cinco ou seis cadernos A4, cheios de poemas copiados destes livros. E sempre a ouvir a música da nostalgia...Foi uma fase algo solitária, mas que me enriqueceu imenso no conhecimento da poesia portuguesa.
Fiz esta tela em 2006, acho, porque me enviaram um email com esta gravura, e com uma mensagem muito bonita, que aliás foi um dos meus primeiros posts no 'gatil'. E porque me encantaram as cores, a geometria e as transparências, tentei replicar o melhor possível o quadro que um senhor latino (cujo nome não consigo encontrar no google) fez, para celebrar os setenta anos da morte deste grande Poeta.
Foi tramado conseguir que as linhas ficassem direitas, e que o arco da Rua Augusta ficasse bem (ou , menos mal), mas no cômputo geral, fiquei satisfeita.
Há um pormenor muito giro, que não se vê na foto. O autor original incluiu anotações à mão (infelizmente não consegui ler na fotocópia da imagem, e só apanhei algumas: o nome dos heterónimos e de algumas das suas obras maiores. Sempre escritos de pernas para o ar e meio disfarçados. Nesta foto vê-se um dos arabescos manuais, perto da caneta, do lado esquerdo da tela)
Tenho pena é de o ter num sítio menos nobre, porque não se enquadra muito na minha sala. Acho que é um quadro que merece o seu espaço... Tenho, definitivamente, de arranjar uma casa nova!